Setor de Mogno Africano resolve dúvida polêmica sobre a identificação taxonômica de Khaya ivorensis nos plantios do Brasil

A convite da ABPMA o Dr. Ulrich Gaël Bouka Diplet, atualmente o maior especialista no gênero Khaya do mundo, conhecido popularmente como Mogno Africano, veio ao Brasil entre os dias 13 a 19 de julho, primeiramente para fazer a identificação da espécie correta das árvores plantadas na Embrapa do Pará, de onde se originaram a maioria dos plantios do Brasil da espécie que era conhecida como Khaya ivorensis A. Chev, algo em torno 35.000 hectares plantados.

Na Embrapa Amazônia Oriental ele classificou com determinação taxonômica as 4 árvores de Khaya lá plantadas com mais idade, que estão entre as primeiras árvores plantadas no Brasil desse gênero. Nessa ocasião as árvores foram reclassificadas como Khaya grandifoliola CDC. Outra surpresa foi que ele também encontrou uma outra árvore em área distinta que ele classificou como sendo Khaya Anthoteca Clássica.

Devido a sua ampla pesquisa com o gênero Khaya, atualmente o Dr. Gaël é considerado a maior autoridade no mundo nesse gênero florestal, sendo inclusive convidado pelos herbários de Londres, Paris, Bruxelas, Amsterdam, Alemanha, assim como vários herbários da África para reclassificar com determinação taxonômica todas as exsicatas do gênero Khaya contidas em arquivo.

A ABPMA aproveitou sua vinda, e organizou um curso nos dias 18 e 19 de julho, na Reserva Natural da Vale, em Linhares, ES, local onde existem 700 hectares de plantios experimentais de diversas espécies arbóreas nativas e exóticas, entre elas algumas khayas, incluindo a espécie Khaya ivorensis verdadeira e os diretores da Futuro Florestal, Valeria e Rodrigo Ciriello, estiveram presentes para aprender mais sobre os mognos africanos e ver de perto como que ficou resolvido esse imbróglio que vem se arrastando há anos sobre a identicação dos plantios do que se conehcia como Khaya ivorensis.

“É emblemático esse curso, haja visto que desde que se iniciou o grande movimento pelo plantio comercial de mogno africano no Brasil, seja pelo incentivo da Embrapa Amazônia Oriental, ou de produtores de mudas, sempre se falava de duas espécies principais, Khaya ivorensis e Khaya senegalensis, inclusive com certa polêmica entre qual delas seria a melhor, mais produtiva, mais valiosa no mercado, entre outros atributos que fizeram o mercado subdividir produtores”, afirmou Rodrigo Ciriello, diretor da Futuro Florestal.

Outro ponto importante do evento ter sido realizado na Reserva Natural Vale, é que foi justamente lá, nos plantios das espécies de Khayas, que o engenheiro florestal Gilberto Terra, identificou essa falha na classificação taxonômica do então conhecido Khaya ivorensis, ao comparar as matrizes desse local com as da Embrapa Amazônia Oriental com plantio de sementes provenientes de lá, identificando que na verdade se tratava de outra espécie Khaya, mais tarde identificada por botânicos internacionais como Khaya grandifoliola.

A ABPMA inseriu no curso uma palestra do engenheiro Gilberto Terra, que é um dos expoentes no setor florestal e agroflorestal utilizando as Khayas, o que enriqueceu ainda mais o evento, haja visto que ele pôde mostrar parte do trabalho que vem executando na Fazenda Sucupira, em Valença/BA, com sistemas agroflorestais e falar também das Khayas e do trabalho que desenvolveu na Reserva Natural Vale com essas espécies arbóreas.

O Dr. Gaël abordou em sua palestra pontos importantes da pesquisa que vem realizando com as Khayas na África, que tem justamente o foco de trazer mais luz a identificação correta dessas espécies, como também definir as características das mesmas, desde a ocorrência natural das variações conhecidas desse gênero, entender o porquê das confusões históricas que outros botânicos já fizeram com elas, assim como identifica-las corretamente. Ele deu uma verdadeira aula, destacando os detalhes morfológicos das folhas, como forma, tamanho, formato e coloração das nervuras, coloração das folhas, entre outros detalhes da própria árvore, para que os participantes possam ter a possibilidade de identificá-las em campo. A botânica realmente tem seus desafios, e ele mesmo afirmou que entre as Khayas é um trabalho árduo fazer essas classificações.

Dr. Gaël também ressaltou a grande dificuldade que vem enfrentando com a Khaya anthoteca e as suas variações, que trouxeram diferentes nomenclaturas para a espécie e estão sendo reclassificadas, informando que até julho de 2020 aparecerão mais duas espécies do gênero Khaya que são derivadas da antiga espécie anthoteca, a qual poderá gerar 6 novas espécies, o que se deve ao fato de ter realizado suas pesquisas na África, Londres, França, Bélgica e Alemanha, onde constatou em diferentes institutos de pesquisas, através de estudos taxonômicos, de filogenia, genética e botânica que o ajudaram a preparar a sua tese. No curso ele falou também sobre os marcadores genéticos nucleares que utilizou na pesquisa.

O assunto de identificação do Khaya ivorensis é polêmico e foi altamente combatido por alguns players do mercado florestal de mogno africano, que relutavam em aceitar que produziam Khaya gradifoliola e não Khaya ivorensis, mas após a vinda do especialista e a realização desse curso, o mercado brasileiro recebeu uma grande dose de transparência e sanou de vez a questão. Importante lembrar que outros botânicos já haviam sido acionados nos últimos anos, como por exemplo o Dr. Pennington, um inglês que é um dos maiores especialistas em Khayas do mundo, assim como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que já haviam confirmado que se tratava de Khaya grandifoliola, mas mesmo assim alguns ainda não haviam aceitado a realidade.

Um dos pontos altos do evento foi a visita de campo aos plantios das Khayas da Reserva, onde os participantes tiveram a oportunidade de conferir ao vivo as diferenças elencadas pelo Dr. Gaël na palestra, visto que pudemos conferir plantios de Khaya ivorensis, Khaya senegalensis e Khaya grandifoliola com idades diversas com a presença dele, sendo as mais antigas com mais de 35 anos, assim como um plantio experimental que o Gilberto Terra fez no local com menos de 10 anos, onde foram testadas lado a lado talhões dessas espécies já citadas.

Interessante observar que nenhum daqueles produtores de mudas, produtores de florestas ou pesquisadores que eram totalmente contrários ao fato de que se tratava de um erro de identificação taxonômica, compareceram ao evento para absorver essas informações de perto.

No frigir dos ovos, o que irá mudar no mercado de mogno africano agora que essa classificação botânica ocorreu, é que o país passou a ser o maior produtor de mogno africano, Khaya grandifoliola, do mundo, visto que até então se considerava o maior produtor de Khaya ivorensis.

O maior trabalho será para os pesquisadores, estudantes, empresas, institutos de pesquisas etc., realizarem as correções nos trabalhos já publicados com a nomenclatura de Khaya ivorensis.

Outro desafio será convencer os produtores e vendedores de sementes do que se conhecia como Khaya ivorensis a realizar a correção do nome do material seminal nos órgãos legais como RENASEM, das áreas de coleta que possuem, para que de agora em diante possam vender as sementes com os documentos corretos aos viveiros que produzem essa espécie de mudas.

Importante salientar que a madeira dessas duas espécies (ivorenis e agrandifoliola) tem grande similaridade, seja na cor, na densidade, nas utilizações e na forma de seu fuste comercial. O Dr. Gaël inclusive citou que na África é muito comum os comerciantes de madeira identificarem quase todas khayas como Khaya ssp, devido a dificuldade de identificar as toras brutas como sendo de uma espécie ou outra, principalmente quando falamos em Khaya ivorensis, Khaya grandifoliola e Khaya anthoteca, as quais apresentam essas características muito parecidas. Citou até que alguns até usam de má fé para identificar muito do que se tira dos planos de manejo como sendo Khaya ivorensis, visto que é a espécie mais bem avaliada atualmente nas cotações internacionais, o que ocorre também no Brasil quando falamos de espécies como cedro ou ipê.  

Uma vantagem que foi levantada pelo Dr. Gaël foi com relação a amplitude de ocorrência natural do Khaya grandifoliola na África, que é bem maior que do Khaya ivorensis, o que explica a resistência dele em regiões não tão úmidas no Brasil, onde se tinha a ideia que não dariam certo, visto que se achava que os plantios eram de ivorensis, espécie que tem ocorrência em regiões mais úmidas da África.

Ficou claro para todos os participantes do evento que no Brasil temos dois momentos marcantes para a produção de mogno africano, sendo um antes da visita do Dr. Gaël e outro após a visita dele, com muito mais transparência e conhecimento sobre as diferentes espécies dessa excelente madeira que produzimos no país, além de que não é essa pequena correção que trará prejuízos aos produtores.

Excelente atitude e organização da ABPMA!!

Quer saber mais sobre os mognos africano? Clique abaixo e faça contato com a Futuro Florestal e saiba informações exclusivas sobre o que foi discutido no evento da ABPMA.

Em breve lançaremos um vídeo exclusivo com o Dr. Gaël respondendo as perguntas dos participantes no evento da ABPMA, e com algumas partes do Dia de Campo nos plantios experimentais da Reserva Natural da Vale, não perca!!

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