O mês de dezembro começou com novidades excelentes para o setor florestal, a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura e o WRI Brasil realizaram um webinar no dia 01 de dezembro para lançar o novo estudo que avaliou a viabilidade técnica e econômica de 40 projetos de reflorestamento a agrossilvicultura utilizando espécies nativas no Brasil, aliás um debate de alto nível entre pessoas que tem trabalhos transversais ao tema de Silvicultura com Espécies Nativas.
Esse estudo inédito mostrou como a restauração de paisagens e florestas tem grande potencial na transição para uma economia de baixo carbono, assim como podem ser instrumentos primordiais para alavancarem os compromissos brasileiros no Acordo de Paris e no Pacto de Glasgow, ambos gerados nas conferências do clima, onde o Brasil foi signatário com propostas ambiciosas, como por exemplo, restaurar 12 milhões de hectares de floresta até 2030.
O webinar foi muito rico, e apresentou o estudo com a temática “Reflorestamento com Espécies Nativas: Estudo de Casos, Viabilidade Econômica e Benefícios Ambientais”, trazendo dados fantásticos, por exemplo, que 32 dos 40 casos estudados tiveram uma taxa de retorno sobre o investimento em um intervalo entre 9,5% e 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%.
O evento foi moderado por Rachel Biderman, líder e atual co-facilitadora da Coalizão e integrante da Conservação Internacional, contou com a apresentação do estudo por Daniel Soares da WRI Brasil, um dos responsáveis pela sua produção, sendo finalizado com um debate entre 3 importantes atores do setor ligado a restauração de larga escala, Pedro Alves Neto, diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro, Andrea Azevedo do Fundo JBS pela Amazônia e Roberto Waak, representando o Instituto Arapyaú e Marfrig.
O debate mostrou convergências e divergências de opiniões dos participantes, que colocaram na mesa excelentes posições e desafios que temos pela frente, seja na questão de como atrair o mainstream dos investidores nacionais e internacionais para a silvicultura e agrossilvicultura de nativas, como também questões relacionadas ao melhoramento genético que pode tornar mais viável a produção de madeira e produtos não madeiros para o setor, como as fibras, castanhas, óleos, essências, entre outros.
Pedro Neto trouxe como ponto relevante para auxiliar no ganho de escala, a agenda do Serviço Florestal Brasileiro para com a implementação do Código Florestal, no que concerne principalmente a regularização ambiental das mais de 7 milhões de propriedades rurais cadastradas no CAR, haja visto que todas elas precisarão se adequar, criando o que ele chama da cadeia produtiva da recuperação ambiental, através principalmente do instrumento chamado PRA, Programa de Regularização Ambiental, que pode gerar como consequência esse ganho de escala da restauração, trazendo um link com a silvicultura de nativas, que é um dos sistemas permitidos de projeto para a regularização de passivos ambientais na propriedade rural.
Outro ponto importante abordado por ele, foi o esforço de fomento a ser realizado pelo departamento de desenvolvimento florestal do SFB, que pretende até o final do primeiro trimestre de 2022 apresentar um arcabouço de tecnologias e facilidades, para criar um ambiente favorável, para que os produtores rurais possam aderir a regularização de suas áreas utilizando algum dos modelos citados no estudo, que prevê não apenas o cumprimento de obrigações, mas também a geração de receita com elas, e citou também que não vai ficar apenas nos sistemas digitais, como o portal Saberes da Floresta criado pelo órgão que apresenta diversos cursos online, mas também com trabalho de campo, com extensão rural e incentivo a adoção de boas práticas, para que haja acompanhamento nesses processos de regularização ambiental. Hoje no Brasil as áreas protegidas nas propriedades rurais abrangem algo em torno de 36 milhões de hectares declarados no CAR pelos produtores rurais, o que pode ser o maior programa de recuperação ambiental do planeta.
Na sequência a palavra foi passada para Andrea Azevedo, que trouxe alguns apontamentos sobre os cases apresentados no estudo, citou a pouca escala dos modelos, o seu formato ainda experimental, o fato importante de estarmos no momento chave para plantar floresta, seja pelo cenário mundial relacionado ao aquecimento global, a emergência climática dos últimos 2 anos, e também os diversos compromissos que as empresas tem com as suas mitigações de emissões, concluindo que apesar dos desafios ela acredita que haverá dinheiro para realizar projetos nas áreas citadas no estudo. Outros apontamentos importantes para atrair investimentos foram o prazo que alguns desses players estão acostumados a arriscar (entre 7 a 10 anos), como estão as cadeias de suprimentos para dar escala a tais projetos, citando como um dos gargalos a oferta de sementes e mudas nativas, como estão as cadeias de consumo relacionadas aos SAFs, para que elas possam ser tão competitivos como as da agricultura tradicional, a falta de mão de obra, a ilegalidade no setor da madeira, e o melhoramento genético para que os projetos possam trazer prazos e produtividade mais atrativos para convencer melhor o investidor, ou seja, foram diversos pontos que ela levantou no debate para trazer luz as questões que ela, como representante de um grande fundo de sustentabilidade, tem que responder aos stakeholders antes de aportar recurso em projetos como esses.
Roberto Waak teve o desafio de responder os questionamentos, assim como a pergunta da Rachel de como atrair não só investimento de filantropia, mas sim investimento de verdade para dar escala no setor.
Ele concordou que os cases do estudo são de pequena escala, com algumas exceções empresariais, e falou da dificuldade do mainstream dos grandes investidores em conseguir investir em pequenos projetos, como também de como é difícil demonstrar que as taxas de retorno desses cases de pequena escala são reais para os investidores, e como tais taxas poderiam ser integradas a projetos de larga escala, haja visto que modelos pequenos tem as suas particularidades distintas dos grandes projetos. Citou também como os grandes investidores, que tem grande volume de recurso para investir em soluções baseadas na natureza, enfrentam a ambiguidade de não achar projetos que tenham a escala mínima que o mandado do fundo exige, haja visto que os tickets mínimos dos mesmos são de grande monta, mas destacou que o estudo publicado começa a tirar algumas dessas dúvidas.
Um dos grandes desafios está no ponto que se refere a monetização das externalidades positivas, como o carbono, água, solo, e principalmente, aquelas que são tangíveis e monetizáveis, como é hoje concreto o carbono, mas somente ele não torna os modelos totalmente atrativos, portanto tais questões precisam ser integradas aos modelos para que eles possam trazer maior interesse e a escala necessária para os investidores do mainstream, que hoje tem um muito recurso para investir em projetos que tragam tais respostas nas modelagens econômicas.
Outro ponto importante citado pelo Roberto, foi sobre a insegurança jurídica do momento institucional atual do Brasil, haja visto que investimento em silvicultura de nativas combinado as altas taxas de desmatamento não combinam, o que tem afastado investidores a pensar no Brasil nesse momento com confiança.
O último ponto abordado por ele se refere a persistência para se ter êxito no setor florestal, citando como exemplo os países que são provenientes do hemisfério norte, onde os ciclos de produção podem chegar a 100 anos, ou seja, prazos bem maiores que o nosso, pelo menos 2 a 4 vezes maior, o que mostra que existe investimento para ciclos mais longos, e que é necessário uma mudança de paradigma dos investidores nacionais, visto que os internacionais convivem melhor com ciclos mais longos de retorno, mas infelizmente tais investidores não estão olhando para o Brasil nesse momento, com essa crise de credibilidade ambiental que temos vivido.
Um dos pontos principais que o Roberto trouxe para o debate, foi sobre como transformar os projetos pilotos em grande escala, citando 2 frentes fundamentais para que o Brasil possa dar esse grande salto para executar a transição, umas delas é a pesquisa e desenvolvimento (P&D), dado todo know-how do setor florestal brasileiro com as espécies exóticas, como eucalipto e pinus, seja nas universidades, empresas e instituições de pesquisa, que pode ser muito bem aproveitado para as espécies nativas brasileiras, ou seja, o país tem tudo para evoluir rapidamente, visto que o setor florestal brasileiro é uma das referências mundiais em tecnologia e alta produtividade, devido ao trabalho já executado nos últimos 40 anos no país, citando inclusive o trabalho de P&D que a própria Coalizão Brasil está encabeçando com os atores que participam da iniciativa, e fará grande diferença no futuro. A outra frente, são as políticas públicas voltadas não só para o estímulo a toda agenda da restauração, mas também no campo fiscal e financiamentos condizentes aos ciclos de produção, assim como aconteceu no início do ciclo da pujança da atividade florestal com as exóticas (pinus e eucalipto) no final da década de 60, citando que grande parte dessas políticas públicas já existe atualmente para diversos produtos do agronegócio ligado as comodities, portanto cabem perfeitamente ao plantio de nativas para que esse salto seja dado com sucesso e de forma rápida.
Rachel citou como é importante iniciativas como a desenvolvida pela Força Tarefa de Nativas da Coalizão, que encabeçou o P&D de Silvicultura de Nativas, que é uma das iniciativas que a Futuro Florestal vem participando ativamente, e será fundamental para essa transição citada pelo Roberto.
Aliás, no campo de P&D, a Futuro Florestal tem um projeto de pesquisa no melhoramento genético de espécies nativas para produção madeireira, com apoio de um projeto PIPE da FAPESP, e a Symbiosis também vem fazendo um trabalho sério no melhoramento de espécies nativas, são 2 cases importantes que mostram que existem trabalhos importantes acontecendo nesse sentido com recurso privado.
Se você se interessa pelo tema de plantio de árvores nativas para uso econômico e melhora na renda na produção rural, ligado a formas sustentáveis de produzir em uma agricultura de baixo carbono, rentável e com excelentes projeções para o futuro, não deixe de assistir ao webinar de lançamento do estudo de casos no player localizado no início desse texto ou diretamente no Canal da Coalizão Brasil no Youtube.
Para baixar o estudo para ler na íntegra você pode clicar aqui: https://bit.ly/estudo-verena e baixar diretamente no site da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura.
A Futuro Florestal teve 2 cases descritos nesse estudo, um deles localizado na página 42 e outro na página 43, que são 2 sistemas agroflorestais que implantamos há pelo menos 10 anos atrás envolvendo espécies nativas e exóticas madeireiras, um deles com café e outro com palmito pupunha.
Realmente 2021 termina de forma muito positiva para o setor de florestas nativas plantadas.
Saudações florestais!